Levanta-te e... sacode a poeira!
A capacidade de superar as adversidades da vida e até tirar proveito delas não é um dom, mas uma qualidade de quem tem resiliência
Por: Pamela Cristina Leme
É possível que você nunca tenha ouvido falar em resiliência, afinal a palavra é mesmo desconhecida - e seu conceito, ainda pouco estudado pela medicina.
No entanto, todo mundo sabe muito bem o que ela quer dizer.
Basta pensar em como algumas pessoas conseguem reunir forças para dar a chamada volta por cima nas adversidades da vida, enquanto outras demoram mais tempo ou simplesmente nunca encontram a superação dos problemas e ficam presas nas malhas da infelicidade e da angústia.
A forma como cada um lida com situações como a morte de uma pessoa querida, a separação dos pais, a traição de um parceiro, um assalto, um seqüestro, um abuso sexual, uma perseguição racial ou até mesmo a vida durante uma guerra ou diante de ameaças terroristas - para citar dois exemplos bastante atuais, é só lembrar das conseqüências dos conflitos entre Israel e Líbano para a população local, ou ainda na guerrilha urbana perpetuada pelo PCC em São Paulo - é o que determina o quanto cada pessoa é resiliente.
A qualidade de seguir em frente e sair fortalecido de uma crise tem feito com que a medicina se interrogue sobre por que alguns são mais resistentes que outros; um terço da população mundial tem traços de resiliência.
De um lado, a biologia defende que cada ser humano é dotado de um potencial genético que o faz mais resiliente que os demais.
Já a psicologia aposta na análise do histórico de vida (as relações familiares, o ambiente em que se cresceu e as situações enfrentadas por cada um, particularmente na infância).
E tem ainda a sociologia, que busca explicação na cultura, nos rituais e nas tradições em que o indivíduo se insere, além da teologia, que acredita na necessidade do sofrimento como evolução espiritual.
Mas o termo vem mesmo é da física.
"Um exemplo bastante freqüente é o das fibras de náilon de um tapete, que se recuperam mesmo depois de serem pisadas ou amassadas", aponta a psiquiatra Alexandrina Meleiro, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a médica, especialistas em comportamento defendem que a resiliência não é inata e, nos últimos 20 anos, eles têm procurado demonstrar como a capacidade de sobreviver em meio a sucessivos problemas pode ser desenvolvida em qualquer época da vida.
"Mas é importante lembrar que a resiliência não tem nada a ver com invulnerabilidade.
Todos nós somos suscetíveis a alguma coisa", ressalta.
O que se espera, portanto, não é perder a sensibilidade quanto às adversidades, mas buscar apoio para, como é dito no popular, fazer do limão uma limonada.
Manual da superação
· Ao aceitar a ajuda e o suporte de pessoas que se interessam por você, a resiliência se fortalece.
· Ao aceitar a ajuda e o suporte de pessoas que se interessam por você, a resiliência se fortalece.
A ajuda pode ser de psicólogo ou médico, por meio de terapia;
· Você não pode evitar que eventos muito estressantes aconteçam, mas você pode mudar a forma de interpretá-los e de responder a esses eventos;
· Aceitar circunstâncias que não podem ser mudadas pode ajudá-lo a concentrar-se sobre as que você poderá alterar;
· Pergunte a si mesmo: "Existe alguma coisa que eu possa realizar para me ajudar no movimento para meus propósitos?" Pode ser: fazer ginástica; marcar aula particular para minha filha; falar com meu chefe;
· Aja em lugar de se afastar completamente dos problemas, querendo que eles desapareçam;
· As pessoas podem aprender algo sobre si mesmas como resultado de suas lutas com perdas. Isso pode ajudá-las a lidar melhor com outras circunstâncias negativas;
· Desenvolver confiança em sua habilidade para resolver problemas e valorizar seus instintos irá ajudá-lo a construir a resiliência;
· Evite exagerar os acontecimentos fora das devidas proporções.
· Você não pode evitar que eventos muito estressantes aconteçam, mas você pode mudar a forma de interpretá-los e de responder a esses eventos;
· Aceitar circunstâncias que não podem ser mudadas pode ajudá-lo a concentrar-se sobre as que você poderá alterar;
· Pergunte a si mesmo: "Existe alguma coisa que eu possa realizar para me ajudar no movimento para meus propósitos?" Pode ser: fazer ginástica; marcar aula particular para minha filha; falar com meu chefe;
· Aja em lugar de se afastar completamente dos problemas, querendo que eles desapareçam;
· As pessoas podem aprender algo sobre si mesmas como resultado de suas lutas com perdas. Isso pode ajudá-las a lidar melhor com outras circunstâncias negativas;
· Desenvolver confiança em sua habilidade para resolver problemas e valorizar seus instintos irá ajudá-lo a construir a resiliência;
· Evite exagerar os acontecimentos fora das devidas proporções.
Experimente ver "o grande quadro" por trás e encontre o tamanho mais acertado do evento.
· Procure ver as coisas mais próximas do que você quer, em lugar de se preocupar com seus medos e receios;
· Manter os cuidados com você mesmo irá ajudá-lo na autopreservação. Ocupe sua mente e seu corpo, preparando-os para lidar com situações que requeiram resiliência.
· Procure ver as coisas mais próximas do que você quer, em lugar de se preocupar com seus medos e receios;
· Manter os cuidados com você mesmo irá ajudá-lo na autopreservação. Ocupe sua mente e seu corpo, preparando-os para lidar com situações que requeiram resiliência.
Fonte: "Criando Filhos Vitoriosos - Quando e como Promover a Resiliência" (Editora Atheneu), de Haim Grunspun
Enfrentar a realidade, diversos valores pessoais, culturais e familiares contribuem para tornar uma pessoa mais forte.
Enfrentar a realidade, diversos valores pessoais, culturais e familiares contribuem para tornar uma pessoa mais forte.
A confiança em si mesmo, a facilidade para buscar ajuda em momentos de necessidade, a sabedoria para ouvir opiniões diversas e discernir entre aquilo que vale ou não ser aproveitado, a curiosidade para conhecer outras histórias de superação, a desenvoltura para verbalizar os próprios sentimentos, a preservação de tradições e rituais de âmbito familiar, o apoio na religião, a boa interação social e familiar, ter filhos e até mesmo a luz solar, a prática de esportes e o não-uso de drogas são alguns dos fatores que contribuem para tornar alguém mais resiliente.
Essas características, associadas a uma criação na infância que tenha perpetuado a autonomia, ajudam - e muito - na hora de lidar com os baixos da vida.A psicóloga e professora da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Maria Ângela Mattar Yunes sinaliza a importância de não adjetivar a resiliência.
Para ela, se admitirmos que há pessoas resilientes, ou "mais resilientes", de alguma maneira estaremos sugerindo que há também pessoas não-resilientes ou "pouco resilientes".
"Será que isso é pertinente?", ela questiona.
"Sou adepta de uma visão de resiliência como fenômeno humano que se refere a sistemas e processos de adaptação das pessoas em situações de crises.
Não me refiro à adaptação no sentido conformista, mas adaptação no sentido de movimento, de busca de bem-estar e de melhor qualidade de vida.
Quem de nós não vive dificuldades e crises?
Quem de nós não procura solucionar os problemas da melhor maneira possível (na ótica de cada pessoa)?", sugere.O psiquiatra Geraldo Massaro, também membro do Hospital das Clínicas e autor do livro "Insegurança - Uma Pedra no Caminho da Felicidade" (Editora Gente), salienta que um traço comum nas pessoas resilientes é a tolerância a mudanças.
"Eles dão tempo ao tempo e entendem que os imprevistos fazem parte do cotidiano e, por isso, não perdem o controle diante da primeira dificuldade", afirma.
De acordo com o médico, pessoas resilientes conseguem planejar melhor o futuro e têm muita capacidade para se adaptar a situações inesperadas. Fatalismo e vitimização passam longe da vida delas. Por outro lado, os que sofrem da falta de resilência são impacientes, ficam angustiados antes mesmo da chegada da crise e se fecham a novas experiências.Com atributos como esses, o termo resilência acabou ganhando mais fama graças ao mundo corporativo - especialmente a partir da década de 90.
Qual empresa não espera nos funcionários a habilidade para se adaptar aos novos (e sempre incertos) rumos do mercado? Nos Estados Unidos, a resiliência é considerada a terceira característica mais importante que um líder deve ter. Alexandrina conta que a postura rígida daqueles que não apresentam traços dessa qualidade pode gerar conseqüências tanto sociais, como emocionais e físicas.
Em casos extremos, quem não supera os problemas pode perder o emprego, acabar com um casamento, se distanciar amigos,além de desenvolver quadros de ansiedade, depressão, pânico, alcoolismo e toxicomania, o que prejudica a imunidade do corpo e leva a doenças como a úlcera e o câncer.
Resiliência em doze passos
Acaba de chegar às livrarias de todo país o livro "Mulher Vulnerável - Doze Qualidades para Desenvolver a Resiliência" (Editora Melhoramentos), da psicóloga americana Beth Miller.
Acaba de chegar às livrarias de todo país o livro "Mulher Vulnerável - Doze Qualidades para Desenvolver a Resiliência" (Editora Melhoramentos), da psicóloga americana Beth Miller.
No título, uma espécie guia feminino para o autodesenvolvimento, ela explica como "a resiliência está para a alma assim como um bom colchão está para o corpo; ela dá suporte e nos ajuda a resistir à depressão".
Segundo a autora, a capacidade de recuperação de uma crise tem doze qualidades que se inter-relacionam como raios de uma roda e funcionam como ferramentas preventivas.
Cada uma dessas qualidades pode ser usada em momentos de dificuldade, mas é fundamental que elas sejam exercitadas em momentos de equilíbrio, para que a flexibilidade seja desenvolvida e fortalecida.
E é isso que Miller explica ao narrar a história de diferentes mulheres que, literalmente, se superaram.
Sem comentários:
Enviar um comentário