terça-feira, dezembro 05, 2006

PARA LER E... SABOREAR A... POESIA

NOCTURNO

Era, na rua, passos de mulher.
Era o meu coração que os soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral o espinho de uma rosa brava...

Era, no copo, além do gin, o gelo;
além do gelo, a roda de limão...
Era a mão de ninguém no meu cabelo.
Era a noite mais quente deste verão.

Era, no gira-discos, o "Martírio
de São Sebastião", de Débussy...
Era, na jarra, de repente, um lírio!
Era a suspeita de ficar sem ti.

Era o ladrar dos cães na vizinhança.
Era, também, um choro de criança...


DAVID MOURÃO FERREIRA

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